O cacique Damio Paridzan, alvo da Polcia Federal por participar de um esquema de corrupo que envolvia fazendeiros, liderana indgena e servidores do rgo federal que realizavam arrendamentos ilegais na Terra Indgena Xavante Mariwatsd para desenvolvimento de atividade pecuria, j recebeu um prmio nacional, em 2014, justamente por defender o contrrio disto. poca, ele comentou que no negociaria com fazendeiros.
O cacique j foi homenageado na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), durante o XI Seminrio de Educao (Semiedu 2013), sendo reconhecido como ‘lutador’ dos povos indgenas. Depois, em Braslia (DF), com a presena da ento presidenta Dilma Rousseff (PT), ganhou um reconhecimento na 20 edio do Prmio de Direitos Humanos.
Neste dia, ele recebeu um trofu por “nunca ter negociado com fazendeiros e polticos, e sempre afirmar: ‘eu s preciso da terra”.
A premiao em Braslia aconteceu no dia Internacional dos Direitos Humanos. Na ocasio, foram feitas 21 condecoraes e duas menes honrosas, entre elas Paulo Freire e Cacique Damio Paridzan da Terra Indgena Mariwatsd.
Durante a premiao, foi lembrada a sua histria, de quando em 1966 os Xavante de Mariwatsd foram expulsos de suas terras tradicionais no nordeste mato-grossense, em uma articulao entre a Igreja Catlica, os fazendeiros, o Governo Federal e a Fora rea Brasileira. S em 2013, houve desintruso total de no-indgenas da Terra Indgena Mariwatsd.
“A 20 edio do Prmio de Direitos Humanos reafirma a misso de reconhecer a atuao fundamental do cacique Damio para divulgao de boa prticas e aes que promovem cidadania e garantia de direitos”, dizia o texto da premiao na poca.
Em entrevista ao Reprter Brasil, em 2013, o cacique disse com todas as palavras que “fechamos um compromisso, no vamos nem alugar nem arrendar nossas terras. Fazendeiro sabido, se a gente alugar o pasto, ele vai entrando cada vez mais um pouco, e a volta todo mundo”.
“Estamos esperando para ocupar a terra e precisamos de assistncia e apoio. hora de fazer projetos e temos conversado sobre isso na comunidade. Primeiro, precisamos de apoio para recuperar a natureza. Segundo, melhorias de sade e escola. Depois, apoio para agricultura ou para pequenas criaes”, concluiu.
Caminhonete e dinheiro
A Polcia Federal encontrou uma mala com quase R$ 14 mil reais dentro da caminhonete SW4 do cacique Damio Paridzan, na manh desta quinta-feira (17), durante ao da operao ‘Res Capta’. O veculo tambm seria um presente ganhado pelo indgena que recebia rees de propina de at R$ 900 mil para arrendamentos ilegais na Terra Xavante Mariwatsd.
Foram alvos de mandados de priso: Jussielson Gonalves Silva; Gerard Maxmiliano Rodrigues de Souza e Enoque Bento de Souza. O cacique Damio Paridzan no foi preso na ao. J a caminhonete foi apreendida. Houve um pedido para que o veculo possa ser, posteriormente, remetido para uso da Polcia Federal.
A Justia determinou medidas cautelares diversas da priso para o cacique, sob pena de decretao de sua priso preventiva em caso de descumprimento. Entre os impedimentos esto: firmar parcerias para criao de gado ou qualquer outra forma de explorao da T.I Maraiwatsede e de manter contato com Jussielson e Gerard Maxmiliano. Suas contas foram bloqueadas, mas ele foi autorizado a sacar at R$ 20 mil por ms para despesas.
Outros que foram alvos de medidas cautelares so: Aldemy Bento da Rocha, Bruno Peres de Lima, Claudio Ferreira da Costa, Derso Portilho Vieira, Ivo Vilela de Medeiros Junior, Gilsom Nunes da Silva, Ivonei Vilela Medeiros, Joo Victor Borges Correia, Justino Agapito de Oliveira Xerente, Marcos Alves Gomes – Alcunha Marco do Raul, Manoel Pinto de Araujo, Osmair Cintra dos os, Saconele, Zaercio Fagundes Golveia e Wilian Paiva Rodrigues.
Na investigao, constatou-se que servidores da Fundao Nacional do ndio (Funai) em Ribeiro Cascalheira/MT, estariam cobrando valores de grandes fazendeiros da regio para direcionar e intermediar arrendamentos no interior da Terra Indgena Xavante Mariwatsd.
No total, existem na rea aproximadamente 70 mil cabeas de gado, conforme o delegado da Polcia Federal Mrio Srgio Ribeiro de Oliveira. A percia apontou uma mdia de R$ 3 mil por cada animal, sendo que o montante do rebanho seria em torno de R$ 210 milhes.
Em razo de pedido da Polcia Federal e do Ministrio Pblico Federal, a Justia Federal em Barra do Garas/MT consignou que os fazendeiros devem desocupar a rea e retirar de l todos os animais, em um prazo de 45 dias.
O delegado Mrio Srgio revela ainda que os fazendeiros no tinham qualquer preocupao com a terra. “No se preocupavam em preservar o meio ambiente. Buscavam extrair todas as riquezas. At porque, no tinham nenhum vnculo com a terra”.
Apenas em quatro dos quinze arrendamentos ilcitos, os Peritos Criminais Federais estimaram o valor para reparao do dano ambiental em R$ 58.121.705,87 (cinquenta e oito milhes cento e vinte e um mil setecentos e cinco reais e oitenta e sete centavos).
