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El Nio: pesquisadores preveem mais calor no Sudeste e Centro-Oeste 5y704k

Efeitos do evento climtico devem persistir at abril de 2024 k2i3q

16/11/2023 | 08:34

Redao

El Ni

Foto: Reproduo

A onda de calor sentida nos ltimos dias nas regies Sudeste e Centro-Oeste do pas sofre influncia do fenmeno El Nio, segundo apontam pesquisadores ouvidos pela Agncia Brasil. A Organizao Meteorolgica Mundial (OMM) estima que os efeitos do El Nio devem ser sentidos pelo menos at abril do prximo ano.

"Tudo indica que teremos um vero extremamente quente. um El Nio de intensidade muito forte que, juntamente com o aquecimento global, produz esses efeitos que ns estamos vendo", diz o coordenador da Rede Clima da Universidade de Braslia (UnB), Saulo Rodrigues Pereira Filho. Como efeitos do fenmeno climtico, ele cita ainda a seca no Amazonas, as chuvas intensas no Sul do pas e o calor extremo no Sudeste e no Centro-Oeste.

Os termmetros do Rio de Janeiro j haviam superado os 40C em algumas ocasies nesta semana. Na capital fluminense, a sensao trmica superou os 58C nesta tera-feira (14). J no Centro-Oeste, dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) relativos a ontem indicaram que Cuiab foi a capital mais quente do pas.

Ricardo de Camargo, meteorologista do Instituto de Astronomia, Geofsica e Cincias Atmosfricas da Universidade de So Paulo (USP) tambm cr que essa onda de calor intensa pode se repetir.

"Realmente podemos enfrentar situaes parecidas como essa justamente por conta da influncia do El Nio. bem provvel que a gente tenha as condies propcias para o acontecimento de novas ondas de calor. O que no d para fazer uma antecipao to fidedigna e to assertiva de quando isso pode acontecer."

O fenmeno El Nio caracterizado pelo enfraquecimento dos ventos alsios (que sopram de Leste para Oeste) e pelo aquecimento anormal das guas superficiais da poro leste da regio equatorial do Oceano Pacfico. As mudanas na interao entre a superfcie ocenica e a baixa atmosfera tm consequncias no tempo e no clima em diferentes partes do planeta. Isso porque a dinmica de circulao das massas de ar adota novos padres de transporte de umidade, afetando a temperatura e a distribuio das chuvas.

O El Nio – que ocorre em intervalos de tempo que variam entre trs e sete anos – persiste em mdia de seis a 15 meses. Segundo Saulo Rodrigues, no Brasil, o fenmeno provoca seca nas regies Norte e Nordeste. J o Sul registra ocorrncia de chuvas torrenciais e ciclones extratropicais.

No Sudeste, conforme observa Ricardo de Camargo, a transio para o regime de chuvas, como esperada para essa poca do ano, est demorando.

"Estamos tendo um perodo extremamente longo em que no h atuao de nenhuma frente fria. Elas no esto conseguindo avanar em direo ao Sudeste e ao Centro-Oeste. Chove muito no Sul e as frentes frias vo embora direto para o oceano".

O meteorologista explica como a movimentao no Oceano Pacfico est ligada com essa situao. "A atmosfera sente a mudana do posicionamento das guas quentes que saem l de perto da sia, da Austrlia e da Oceania e vm ocupar pores mais centrais ou at mais prximas da Amrica do Sul. E a existe um impacto. Uma das s justamente essa dificuldade dos sistemas frontais conseguirem avanar mais em direo ao Sudeste e ao Centro-Oeste".

Aquecimento global

Mas s o El Nio no suficiente para explicar a situao, segundo avalia o pesquisador da UnB. Ele considera que o fenmeno tem uma influncia importante, mas a anlise desses eventos extremos deve considerar em primeiro lugar o aquecimento global. O pesquisador alerta para as projees indicando que as ocorrncias de fortes chuvas, calor extremo e secas severas devero ficar mais frequentes e mais intensas. So episdios que podem desencadear desastres socioambientais e problemas de sade.

"J existe um conhecimento cientfico slido sobre a capacidade que as mudanas climticas possuem de produzir grandes perdas e danos para a sociedade e para as atividades produtivas. As populaes vulnerveis se tornam muito potencialmente vtimas desse cenrio", observa Saulo Rodrigues.

De acordo com Ricardo de Camargo, no d mais para colocar em dvida que as mudanas climticas esto em curso. " inegvel que as temperaturas esto cada vez mais altas em todos os lugares do planeta de uma maneira quase geral. No h mais espao para negacionismo com relao a isso. As projees indicam que os sistemas transientes e os eventos extremos devem ficar mais frequentes, mais comuns e iro atingir com maior severidade. Se fizermos uma anlise do que tem sido divulgado na mdia, veremos que realmente o mundo todo est enfrentando essas situaes de episdios severos".

O meteorologista, no entanto, faz uma ponderao. " difcil atribuir um percentual de responsabilidade da mudana climtica nessa onda de calor que estamos vivenciando agora", avalia. Segundo ele, considerando a mudana no regime de precipitao que tem se observado, possvel fazer a associao, mas com algum cuidado.

Polticas Pblicas

Saulo Rodrigues observa que os principais responsveis pelo aquecimento global so os pases desenvolvidos, que emitem maior quantidade de gases de efeito estufa. Ao mesmo tempo, ele avalia que o Brasil tem um desafio.

"Ns temos uma matriz energtica com grande percentual de energia renovvel. A matriz eltrica brasileira 90% composta de energia renovvel. Poucos pases do mundo tem essa capacidade de produzir energia com baixas emisses de carbono. O Brasil tem esse ativo. O Brasil tambm tem a Floresta Amaznica e o Cerrado que retiram carbono da atmosfera. Isso muito importante para o equilbrio climtico. Ento o Brasil parte da soluo. O principal problema brasileiro a questo do desmatamento".

O pesquisador da UnB cita alguns resultados positivos neste ano, com o registro da queda das taxas de desmatamento, mas faz um alerta. Segundo ele, o governo deve elaborar polticas pblicas que considerem os efeitos de mdio e longo prazo.

"Somos reconhecidamente um dos pases mais vulnerveis aos impactos das mudanas climticas, porque [o Brasil] se localiza em uma faixa tropical onde as temperaturas normalmente j so mais elevadas. O aquecimento global tende a intensificar essas temperaturas."

Segundo o pesquisador da UnB, a regulamentao do mercado de carbono, em discusso da Congresso, positiva. Mas ele defende que o agronegcio no pode ficar de fora dos setores que devero cumprir metas de descarbonizao. Essa uma questo que tem gerado divergncias.

"O mercado voluntrio de carbono, sem a regulao do estado, tem apresentado muitas imperfeies. Muitas empresas esto vendendo crdito de carbono de forma irregular, no apresentando os resultados que oferecem e isso traz muita insegurana para os investidores. Por isso to importante a regulao desse mercado".

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