Um udio que circulou na ultima semana com insultos e declaraes ofensivas a ndios gerou indignao entre lideranas indgenas em Mato Grosso. No udio, o coordenador do Distrito de Sade Especial Indgena (DSEI) do Araguaia (MT), o suboficial reformado da Marinha, Ronalde de Barros Ramos, fala, entre outras coisas, que os ndios citados no trabalham e no produzem nada e que tm que aprender trabalhar com os no-indgenas.
Segundo a conselheira local do Conselho Regional de Sade Indgena (Considi), Luciene Karaj, de 50 anos, as ofensas aos povos indgenas comearam gradativamente desde a chegada do militar coordenao do DSEI do Araguaia, em So Flix do Araguaia, no nordeste do estado, em 2020. Em udio, ocoordenador de Distrito de Sade Indgena em MT insulta ndios
A Secretaria Especial de Sade Indgena (SESAI), por meio do Ministrio da Sade, informou que a parte da conversa que foi gravada no apresenta a totalidade do dilogo, omitindo parte importante da conversa j em andamento. "A gravao, feita sem conhecimento do coordenador, possibilitou que o contexto da conversa fosse colocado de acordo com os interesses do profissional, numa clara tentativa de desmoralizar o coordenador", diz trecho.
Nos ltimos dias, a tenso aumentou com o vazamento do udio de Ronalde insultando os indgenas e discutindo com funcionrios de outros rgos. “Vocs no sabem porra nenhuma. Nada. Nem trabalhar vocs sabem. Um monte de terra, ningum produz nada. Querem s ficar vivendo de misria do povo, do governo. Vocs tm que ter vergonha na cara e trabalhar. isso que vocs tm que fazer. Aprender a trabalhar com 'tootori' [referncia a no indgenas]. isso que vocs tm que aprender", diz em trecho. Em seguida, ele diz que mestio e aprendeu a trabalhar.
"Ns temos que aprender, porque eu tambm sou ndio. Eu sou mestio e aprendi a trabalhar. Eu nem preciso trabalhar mais, sou aposentado, ganho R$ 12 mil da Marinha e tenho mais duas casas alugadas. Eu trabalho dia e noite. Quando eu sair daqui, vou trabalhar l fora. isso que vocs, o nosso povo, tem que aprender a fazer, trabalhar. Coisa que no fazemos", afirma no udio.
"H 500 anos ns fomos descobertos e no conseguimos trabalhar, aprender com 'tootori' [no indgena] a produzir. Vocs no eram para precisar de Sade Indgena, de sade de merreca de governo, nosso povo era para ser milionrio pela terra que ns temos. O que falta para ns disposio para o trabalho, isso que est faltando para o nosso povo", diz em sequncia.
Segundo Luciene Karaj, a discusso comeou quando um conselheiro do Considi, Juanahu Iny Tori, questionou os gastos com combustveis para a realizao de o curso de capacitao 'Ateno Integrada s Doenas Prevalentes na Infncia', entre os dias 22 e 26 de novembro.
Juanahu teria sugerido que o combustvel fosse usado no transporte e atendimento s crianas doentes em vez de ser utilizado no curso. Ainda na ltima sexta-feira (26), houve uma pequena manifestao em frente ao DSEI do Araguaia contra essa medida.
Sobre a crise desencadeada no DSEI, a Associao Indgena do Vale do Araguaia (Asiva) emitiu uma nota de repdio, afirmando que “os relatos dos nossos parentes e que no a primeira vez que o coordenador usa sua autoridade para humilhar os funcionrios indgenas”.
"A Secretaria Especial de Sade Indgena (SESAI) informa que o Coordenador do Distrito Sanitrio Especial Indgena (DSEI) Araguaia, Ronalde de Barros Ramos, vem exercendo a coordenao do distrito com qualidade tcnica de modo a manter a assistncia de sade dos indgenas da regio, com apoio dos profissionais do DSEI e do controle social.
Conforme explicaes dadas pelo coordenador, as palavras proferidas no se referem populao indgena atendida pelo distrito, mas sim a uma situao pontual envolvendo um indgena e outros colaboradores que trabalham no distrito e, h tempos, no vm desempenhando suas atividades a contento sendo que, quando cobrados, acabam no corrigindo as falhas identificadas.
A parte da conversa que foi gravada no apresenta a totalidade do dilogo, omitindo parte importante da conversa j em andamento. A gravao, feita sem conhecimento do coordenador, possibilitou que o contexto da conversa fosse colocado de acordo com os interesses do profissional, numa clara tentativa de desmoralizar o coordenador. O Distrito informa que trabalha em harmonia com o controle social, composto por conselheiros, e que o Conselho Distrital est acompanhando a apurao dos fatos."