Domingo, 1 de junho de 2025
informe o texto

Notcias | Cidades 305l63

Xingu fecha fronteiras para evitar chegada do coronavrus 6e6w44

Os atuais xinguanos, descendentes dos sobreviventes daquele cataclismo, so cerca de 6.000 ndios. 3y4e30

21/04/2020 | 08:03

Folha de So Paulo/Leo Serva

Xingu fecha fronteiras para evitar chegada do coronav

Foto: Reproduo

A um ano de completar seis dcadas de criao, a Terra Indgena doXingu, implantada no corao do Brasil, enfrenta os riscos provocados pela chegada da pandemia de Covid-19.

Os prognsticos indicam uma “situao explosiva” em decorrncia da fragilidade dos ndios diante de novas doenas, da carncia do sistema de sade e tambm do prprio modo de vida tradicional, com compartilhamento constante de casas e refeies, alm da facilidade de o dos municpios vizinhos ao interior do territrio demarcado. “No chegou ainda terra indgena, mas h um risco grande de chegar logo. Nove cidades da regio tm um intercmbio intenso com as aldeias. H muitos indgenas vivendo nas cidades”, afirma o mdico Douglas Rodrigues, da Unifesp (Universidade Federal de So Paulo).

A recomendao, segundo o sanitarista, que se dedica pesquisa e ao atendimento mdico dos xinguanos desde o incio dos anos 1980, “quem est fora no entra e quem est dentro no sai”. “Os ndios esto mantendo as entradas fechadas.”

Mas sua previso que a Covid-19 entre noXingu. “A epidemia est chegando perto, com casos registrados em cidades vizinhas”, diz o mdico. “Isso poder provocar uma situao explosiva. Mas a maioria so casos sem maior gravidade, que uma boa equipe mdica na rea poder cuidar. Os casos graves tero que ser tratados nas cidades, dependendo da capacidade do sistema de sade.”

Outra preocupao, segundo Rodrigues, com os agentes de sade que atuam noXingu.

“Eles trabalham 20 dias no campo (oXingu) e tm 10 dias de folga. Agora, tero que fazer uma quarentena de 14 dias antes de voltar aoXingu. Isso conta como trabalho? Onde vo fazer quarentena? Como vo ficar ss? Isso um risco.”

Se a previso de Rodrigues se confirmar, no ser a primeira vez que oXinguviver uma epidemia. Desde a chegada dos europeus Amrica, a regio onde fica aquela terra indgena j sofreu diversas epidemias, a primeira delas no final do sculo 16.

Vrus contrados no litoral do pas se espalharam pelo interior antes mesmo de conquistadores portugueses dominarem o centro do Brasil, provocando uma devastao chamada cataclismo biolgico. Varola, sarampo e gripe reduziram a populao xinguana em quase 90%, fazendo desaparecer grandes cidades.

Os atuais xinguanos, descendentes dos sobreviventes daquele cataclismo, so cerca de 6.000 ndios, cuja populao vem crescendo desde os anos 1960, quando algumas etnias praticamente desapareciam. ntes do anncio da atual epidemia de coronavrus, oXinguj se preocupava com as ameaas representadas pelo desmatamento radical das reas verdes em seu entorno, por mudanas climticas e pela contaminao de suas terras e guas por agrotxicos que so usados nas fazendas vizinhas.

Localizado no norte do Mato Grosso, o Parque doXingu, como mais conhecido, lar de 16 etnias com cinco troncos lingusticos. Algumas habitam a regio h quase dois milnios, outras foram incorporadas ao longo dos sculos –at mesmo pela deciso de seus fundadores, os irmos indigenistas Orlando, Claudio e Leonardo Villas Bas, que trouxeram para a proteo da rea demarcada alguns vizinhos dizimados por invasores e doenas.

Esses grupos diversos vivem juntos em um sistema de integrao cultural marcado por intenso intercmbio de rituais e bens, que estabeleceu uma cultura xinguana.

Ao decretar sua criao, em 1961, o presidente Jnio Quadros atendeu ao clamor popular de uma campanha nacional capitaneada por dez anos pelos irmos Villas Bas. Foi na gesto dos Villas Bas, primeiro em nome do Servio de Proteo aos ndios, o extinto SPI, e depois de sua sucessora, a Funai (Fundao Nacional do ndio), que se formaram os mais tradicionais lderes xinguanos.

Ao istrar suas comunidades, esses caciques lidam ao mesmo tempo com a tradio dos ritos e do modo de vida antigos e a presso do consumo de produtos e servios da cultura urbana.

Uma outra preocupao a presena de agrotxicos nos rios e em suas terras. Os sinais de contaminao cresceram recentemente, com a aproximao ainda maior de fazendas de soja das divisas do parque.

Por habitarem reas fronteirias, os ndioskisdjs, da Terra IndgenaWawi, tm sido os mais afetados. Sentem cheiro de veneno no ar e nas guas, detectam mudanas no gosto dos peixes e veem animais mortos, com o estmago cheio de soja.

Por isso, eles procuraram a ajuda de parceiros e cientistas. O programaXingu, do ISA (Instituto Socioambiental), foi acionado e contatou o bilogo Francco Antnio Lima, que fez mestrado na UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) sobre a presena de agrotxicos em reas da Terra IndgenaMaraiwatsede(MT).

Ele concentrou os primeiros levantamentos na rea fronteiria s fazendas de soja, onde moram oskisdjes, para depois estudar a regio doskuikuro. Em investigao anterior, em terras dosxavante, Lima detectou sinais de uso criminoso de agrotxicos, como gales abandonados abertos junto a poos de gua.

As anlises da qualidade da gua foram feitas pela Unifesp, que colheu amostras de chuva, de rios com nascentes fora do parque, de crregos que nascem dentro da terra indgena, coletadas a 40 km da fazenda mais prxima, e de poos profundos implantados pelo Ministrio da Sade nos ltimos anos, exatamente para evitar o consumo do lquido cada vez mais poludo.

Os resultados estavam previstos para serem entregues aos ndios neste ms de abril, para s depois serem divulgados ao pblico. A chegada da pandemia de coronavrus regio adiou tudo.

O mdico sanitarista Rodrigues, da Unifesp, tambm aguarda com apreenso esses resultados.

Em suas andanas pela rea, ele conta ter visto muitos sinais de agrotxicos. “H forte impacto nos rios: os ndios descrevem a presena de peixes mortos e cheiro estranho, especialmente no Tanguro, que nasce fora dos limites do parque e a pela cidade de Querncia (MT). Na beira desse rio, eu senti gosto estranho na gua”, afirma.

A suspeita de que os agrotxicos possam contaminar a terra indgena vem tambm do fato de que as regies agrcolas em torno doXinguso palco de diversos casos j documentados de contaminao sistmica das pessoas, como narra o dossi “Um Alerta Sobre os Impactos dos Agrotxicos na Sade”, publicado pela Associao Brasileira de Sade Coletiva (Abrasco) e pela Fiocruz, em 2015, entre outros estudos.

0 comentrios 6q5d2g

AVISO: Os comentrios so de responsabilidade de seus autores e no representam a opinio do site. vetada a insero de comentrios que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. O site poder retirar, sem prvia notificao, comentrios postados que no respeitem os critrios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matria comentada.

Sitevip Internet